Nas últimas décadas, os brasileiros se acostumaram a ver barreiras à frente dos edifícios residenciais formadas por muros, cercas e guaritas. Bem diferente do que ocorre na Europa, onde é comum na realidade urbana tropeçar com lojas espalhadas pelos andares térreos dos condomínios. Aos poucos, no entanto, vem ganhando espaço por aqui esse conceito que possibilita uma interação maior e muito mais viva entre o espaço privado de um edifício e a calçada com acesso aberto para as pessoas. O termo técnico usado para ele é “fachada ativa”. O princípio é o de que os bairros sejam mais integrados e inclusivos, que sejam um espaço de convivência das pessoas, em vez de bunkers privados e calçadas que apenas servem de estacionamento.
Ainda que a iniciativa esteja alinhada com os conceitos urbanísticos mais modernos, o tema ainda divide opiniões no país. Quem torce a boca para implantação de uma fachada ativa acredita que o imóvel possa se desvalorizar por causar transtornos aos condôminos, que têm seu espaço compartilhado com pessoas de fora. Outro ponto muito discutido é sobre o quanto isso fragiliza a segurança do endereço. Afinal, ao contrário da Europa, os assaltos nas ruas e os ataques a estabelecimentos comerciais são cada vez mais frequentes nas metrópoles brasileiras. Por esse motivo, muita gente teme que ter uma loja no andar térreo de seu prédio funcione na prática como uma porta de entrada para a violência.
Do outro lado, defendendo essa característica de muitos novos prédios, estão as pessoas que consideram que ter serviço tão próximo de sua residência é um facilitador, pois evita a necessidade circular mais pela cidade e de enfrentar trânsito, o que ajuda a poupar tempo no dia a dia. Diferentemente de quem torce o nariz para uma fachada ativa por motivos de segurança, os entusiastas da tendência acreditam que ter uma loja ou empresa no prédio pode aumentar mais a segurança do local, que estará movimentado, podendo afastar ladrões que preferem agir em lugares mais ermos.
As leis de zoneamento mais recentes dos municípios incentivaram as incorporadoras a projetarem empreendimentos com fachada ativa, por meio de suas regulamentações, diretrizes e até mesmo com descontos na construção, como foi o caso do Plano Diretor de 2014 em São Paulo e em Curitiba. Esse foi um meio pelo qual as cidades encontraram para incentivar usos mais dinâmicos das ruas, melhorando a qualidade dos seus espaços públicos. A medida serve também como um grande incentivo ao comércio.
Na hora da construção de um empreendimento do tipo, não basta querer implantar uma fachada ativa e achar que existe total liberdade para a execução do projeto. As incorporadoras precisam estar alinhadas com a gestão urbana do seu município e ver os limites e diretrizes para colocar a fachada ativa em prática. É importante planejar e observar as necessidades dos futuros condôminos do prédio e saber que tipo de serviço deve ser implementado no local. Além disso, é necessário ter atenção para que se preserve bem a área dos moradores, com acessos particulares e circulação independentes com relação a área comercial, de forma a garantir a privacidade e segurança dos reais donos dos espaços, que são os condôminos. Já existem escritórios especializados nesse planejamento e em estudos para minimizar problemas e pensar em boas oportunidades de negócio.
Apesar desse termo ser relativamente novo para muitas pessoas, o conceito já era visto em muitas cidades pelo Brasil, mas não era planejado de forma regulamentada como é atualmente. Um dos principais exemplos em São Paulo é o Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, que em seu térreo, com acesso à calcada, tem uma infinidade de lojas, restaurantes e serviços, assim como o lobby que dá acesso aos elevadores que levam aos apartamentos residenciais.
O fato é que a proposta de uma fachada ativa é transformar a cidade em um ambiente mais agradável, inclusivo e até mesmo harmonioso, uma vez que as lojas deixam a as fachadas dos prédios mais modernas e vivas.
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